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Mostrando postagens de agosto, 2009

Ah! Os relógios!

(Mário Quintana) Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são...

Remorso

(Olavo Bilac)   Às vezes, uma dor me desespera... Nestas ânsias e dúvidas em que ando. Cismo e padeço, neste outono, quando Calculo o que perdi na primavera. Versos e amores sufoquei calando, Sem os gozar numa explosão sincera... Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera Mais viver, mais penar e amar cantando! Sinto o que desperdicei na juventude ;Choro, neste começo de velhice ,Mártir da hipocrisia ou da virtude, Os beijos que não tive por tolice, Por timidez o que sofrer não pude, E por pudor os versos que não disse!

Adeus, meus Sonhos!

(Álvares de Azevedo) Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! Votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto, E minh'alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus?Morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já não vejo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores!

Lágrimas Ocultas (Florbela Espanca)

Se me ponho a cismar em outras eras Em que rí e cantei, em que era querida, Parece-me que foi outras esferas, Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida Que dantes tinha o rir das primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida! E fico, pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim!